É incrível o que um pequeno sítio - a small village - como Beja tem para oferecer, quando o sabemos aproveitar. Basta olhar à volta: esquinas em profusão, apesar de tudo algumas árvores - sim, são precisas muitas mais a ladearem os passeios, pois já me aconteceu andar de bexiga apertada sem ter onde marcar território, e bem precisaria, para garantir a sinalização de regresso a casa.
Ontem, depois da refeição e de um breve sono reparador, quando o meu querido pajem me quis apresentar à vizinha do lado - uma típica velhota dos gatos, dessas rijas, que duram 100 anos e enterram três maridos, capazes de nos perscrutarem a alma e entenderem o cerne da nossa identidade animal - esgueirei-me pelo portão em busca de libertina e necessária vadiagem, deixando para trás gritarias de desespero. (Dele. Ela ficou estranhamente quieta - e creio que sorria.)
Corri o mais que pude e fui ter a um pardieiro de cardos e de juncos secos - um cenário de devastação pronto para uma filmagem de campo de batalha da II Guerra: tratava-se da Mata (lá está: «fere! MATA! morre!») chamada dos Alemães. Acabei comovido, pensando que eles (os alemães) também se hão-de render a esta singela homenagem que a população de Beja presta à Chanceler Ângela, um vosso Anjo da Guarda, capaz de evitar as diatribes dos vossos líderes, segundo me consta. Abandonei o sítio a quatro patas quando percebi que aquilo era um berço de carraças - sugadouras impiedosas do nosso sangue, e fiéis depositárias das mais perigosas doenças, algumas mortais.
Corri o mais que pude e fui ter a um pardieiro de cardos e de juncos secos - um cenário de devastação pronto para uma filmagem de campo de batalha da II Guerra: tratava-se da Mata (lá está: «fere! MATA! morre!») chamada dos Alemães. Acabei comovido, pensando que eles (os alemães) também se hão-de render a esta singela homenagem que a população de Beja presta à Chanceler Ângela, um vosso Anjo da Guarda, capaz de evitar as diatribes dos vossos líderes, segundo me consta. Abandonei o sítio a quatro patas quando percebi que aquilo era um berço de carraças - sugadouras impiedosas do nosso sangue, e fiéis depositárias das mais perigosas doenças, algumas mortais.
Atravessei uma rua e dei de caras com uma espécie de acampamento cigano - isto é: com roupas estendidas, vário lixo espalhado, uma ou outra decoração mobiliária ao ar livre, restos de fogueiras, mulheres gesticulando, homens gritando, crianças em desalinho - mas sem acampamento, o que prova, por um lado, a adaptação destes Gipsy Kings à cultura do cimento, e, por outra, nos dá uma dimensão da sã convivência multicultural, tão apregoada pela agonizante civilização que tem consentido a defesa do manifesto da integração e tolerância em sentido único. Em tempos, também tivemos disso, lá na nossa Grande Ilha.
Pus-me a milhas (pois, traduzam lá isso para metros) quando um miúdo de sorriso premonitório - decerto com as melhores intenções - se aproximou de mim com uma corda na mão.
Passei por uma piscina coberta - mas afastei-me rapidamente, que os eflúvios de cloro são veneno para um narizinho como o meu - e entro então num terreno baldio sem qualquer interesse - e que, estranhamente, estava impregnado de cheiros de urina e fezes de... leão!!!! Mas... há leões em Beja? Alguém me avise, por favor, seria bastante desagradável dar com um na volta de uma esquina!
Este terreno - árido e triste como um discurso pré-eleitoral - impedia-me, através de umas redes ostracizantes, de cheirar, pisar e saltar por cima do fresco verde de uma relva bem tratada, onde meia dúzia de homens vestidos de rapazes corriam - invectivando-se uns aos outros com nomes e expressões que me inibo, por pudor canino, de revelar - atrás de uma bola, como se fossem estouvados cachorros de seis meses. Ao lado, atrás de outra rede - grrrr!... - aqueles que pareciam ser os seus pais, fixavam, numa obsessão delirante - com uma excitação que me remeteu para um pitbull do West End, de nome Golias, cujo permanente cio o escravizava de tal modo que acabou por morrer de exaustão copulatória - minúsculas imitações de bólides de Fórmula 1, que, por sua vez, zuniam no ar como insectos invasores de um daqueles filmes apocalípticos que as famílias, reunidas na paz do lar, tanto gostam de partilhar nas doces tardes de domingo.
Fiquei a perceber então, por associações que o meu estimado cérebro conseguiu fazer, que estas actividades humanas - corridas com bola, corridas com carrinhos, e sofá com filmes de terror - se enquadram numa vasta e importante área de actuação humana, denominada DESPORTO.
E foi com esta reflexão que cheguei à desinteressante Mata das Merendas. Penso, no entanto, assinalar este sítio no Google Maps para preciosa informação de companheiros errantes, pois reparei que haverá sempre uns restos de pão ou de galinha semeados em volta das mesas de pedra; há também fartura de água - e é tanta a que corre da torneira que há quem lhe dê o bom uso da higiene automobilística (sim: para que é que a água há-de ficar nos canos?) formando, aqui e ali, as necessárias poças para que quem não dispõe de dedos gigantes que agarrem e façam girar as torneiras - como nós, animais de patas - lhes dê o outro uso - menor, eu sei - de acalmar a sede.
Pus-me a milhas (pois, traduzam lá isso para metros) quando um miúdo de sorriso premonitório - decerto com as melhores intenções - se aproximou de mim com uma corda na mão.
Passei por uma piscina coberta - mas afastei-me rapidamente, que os eflúvios de cloro são veneno para um narizinho como o meu - e entro então num terreno baldio sem qualquer interesse - e que, estranhamente, estava impregnado de cheiros de urina e fezes de... leão!!!! Mas... há leões em Beja? Alguém me avise, por favor, seria bastante desagradável dar com um na volta de uma esquina!
Este terreno - árido e triste como um discurso pré-eleitoral - impedia-me, através de umas redes ostracizantes, de cheirar, pisar e saltar por cima do fresco verde de uma relva bem tratada, onde meia dúzia de homens vestidos de rapazes corriam - invectivando-se uns aos outros com nomes e expressões que me inibo, por pudor canino, de revelar - atrás de uma bola, como se fossem estouvados cachorros de seis meses. Ao lado, atrás de outra rede - grrrr!... - aqueles que pareciam ser os seus pais, fixavam, numa obsessão delirante - com uma excitação que me remeteu para um pitbull do West End, de nome Golias, cujo permanente cio o escravizava de tal modo que acabou por morrer de exaustão copulatória - minúsculas imitações de bólides de Fórmula 1, que, por sua vez, zuniam no ar como insectos invasores de um daqueles filmes apocalípticos que as famílias, reunidas na paz do lar, tanto gostam de partilhar nas doces tardes de domingo.
Fiquei a perceber então, por associações que o meu estimado cérebro conseguiu fazer, que estas actividades humanas - corridas com bola, corridas com carrinhos, e sofá com filmes de terror - se enquadram numa vasta e importante área de actuação humana, denominada DESPORTO.
E foi com esta reflexão que cheguei à desinteressante Mata das Merendas. Penso, no entanto, assinalar este sítio no Google Maps para preciosa informação de companheiros errantes, pois reparei que haverá sempre uns restos de pão ou de galinha semeados em volta das mesas de pedra; há também fartura de água - e é tanta a que corre da torneira que há quem lhe dê o bom uso da higiene automobilística (sim: para que é que a água há-de ficar nos canos?) formando, aqui e ali, as necessárias poças para que quem não dispõe de dedos gigantes que agarrem e façam girar as torneiras - como nós, animais de patas - lhes dê o outro uso - menor, eu sei - de acalmar a sede.
De Mata em Mata, chego, finalmente, à... Mata (Uauf!... é uma mania bejense, esta, da repetição toponímica) .
A Mata é óptima para travar conhecimento com os bípedes nativos que andam por ali aflitos, fugidos ainda não percebi de quem, mas de algo muito ruim há-de ser, pois apesar do sofrimento ofegante, não param, nem sequer olham para trás, para o seu perseguidor. Fiquei alerta - e passei a vigiar discretamente os costados, atento ao mínimo ruído suspeito - não fosse também ter de começar a correr de algo ou de alguém.
A Mata é óptima para travar conhecimento com os bípedes nativos que andam por ali aflitos, fugidos ainda não percebi de quem, mas de algo muito ruim há-de ser, pois apesar do sofrimento ofegante, não param, nem sequer olham para trás, para o seu perseguidor. Fiquei alerta - e passei a vigiar discretamente os costados, atento ao mínimo ruído suspeito - não fosse também ter de começar a correr de algo ou de alguém.
(to be continued)