quinta-feira, 26 de maio de 2011

o sentido das coisas parece ir ao contrário, por cá

Tenho um ouvido apurado - e é o que me tem safado, desde que me pus a patas em direcção a Beja, com os condutores em alucinações de um Schumacher, ainda por cima todos, todos em contra-mão.

Gostava de vos ver súbditos de SS. MM., a terem de se explicar aos Bifes. Qual eu não vi senhor polícia tenho a filha doente no hospital, a unha do dedo gordo do pé direito encravada no acelerador, qual atitude pedagógica (senhor condutor veja se para a próxima põe um pouco de vaselina na unha tome lá um cartão da pedicura da minha mulher e a sua filha se está no 2º andar está muito bem entregue, descanse, o meu sobrinho que ainda é enfermeiro por cá mas já meteu os papéis para Londres, diz que só tem pena de ficar sem as sobras que deixam os pacientes do 2º, é um jeito da Albertina, a cozinheira, tive um fraquinho por ela, mas o que lá vai lá vai); em Londres, com esta condução, já só paravam na choldra, com os papéis apreendidos e condenados à bicicleta (objecto que, estranhamente, ainda não vi por cá).

Assim, embora viesse a treinar pelo caminho o difícil, nasalado e um pouco tonto «ão-ão» dos quadrúpedes nativos - disseram-me, no aeroporto, onde vi algumas lágrimas de despedida, para não perder de vista a torre do castelo, que havia lá erva boa para rebolar - valeu-me a inata e precisa atenção canina para saltar bem para longe do asfalto de cada vez que um bólide assobiava com instintos mais assassinos que a orca assassina do filme onde a minha querida Rampling diz a frase que me  tem valido neste mundo cão entre os bichos de dois pés:  «If he [the orca] is like a human, what he wants isn't necessarily what he should get.»

E, depois choveu, o que contradiz de modo esclarecedor a publicidade enganosa da agência Sunvil, a tal que conseguiu vender os quatro bilhetes enquanto cantavam o  Show me the way to Alentejo - reparem bem onde é que andam as nuvens por aqui - vêem-nas em algum lado? Mas sou um cão optimista, enquanto rosno com o coro - sha-la-la la-la-a-a! - aguardo o sol prometido (e os dois nacos com que me acenaram aos 1´26´´).

Entretanto, confirmei que esta terra e esta gente anda em sentido contrário. Mais carros e carros com e sem bandeiras, a cruzarem-se por mim - contra mim -  numa frenética corrida ruidosa. Pareceram-me, talvez de um modo indeciso, alegres - que eu, para apanhar estas subtilezas tenho um faro bem treinado.

O Orelhas, um perdigueiro que andava perdido por umas estevas, enquanto insistia em andar às voltas como um carrocel - o que me ia pondo doido, se há coisa que tenho por desnecessária é esta procura do dono (ou vem ele ter connosco, ou mais vale não ter nenhum) - ainda me ganiu, doloroso, que a caravana ia para uma Cuba que não era a do Castro das balsas, nem dos naufrágios, nem dos charutos, nem da salsa latina, nem da abertura ao agora saudável e incentivado espírito empreendedor para o mundo dos  pequenitos negócios - ver o «Nosso Primeiro» - que é como quem diz, percebi, depois de muito ofegar -  o equivalente ao nosso Number 10, o David -  se bem que me pareça que o vosso tem a testa um pouco mais curta.

Fiquei comovido; mesmo que não quisesse, a minha cauda sacudiu-se, vigorosa, em reflexos inatos: ainda agora chegado no meu way to Alentejo e já me cruzo, no paraíso que me venderam, com as maiores sumidades políticas da Nação cúmplice, que connosco celebrou a mais antiga Aliança Diplomática do Mundo-cão civilizado! 

Para selar esta reflexão dei uma mijadela salerosa numa oliveira raquítica, implantada em terreno agrícola de 1ª classe. Isto sim, é vida!

I like it!
God Save the Queen and keep us fed and clean!

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