domingo, 29 de maio de 2011

Splaft!

Sorry não ter dado notícias ontem, mas encontrar um pajem tornou-se prioridade. Afinal, o sol do Alentejo parece uma miragem da publicidade enganosa da agência que me trouxe cá, chove e venta, a temperatura desceu, a fome cresceu, e tornou-se mesmo imperioso arranjar malga e tecto.

Farejei até onde havia um aglomerado de gente. Encontrei os bípedes em volta de livros e cadernos cheios de figurinhas - umas mais direitas que outras, algumas de pôr os olhos em bico mesmo a um rafeiro como eu -  circulando num edifício assaz estranho, assim a atirar para o modernaço, um misto de estabelecimento prisional e centro comercial de subúrbio, a que ouvi chamar Casa da Cultura. 

Well, não me pareceu lá muito alta, esta casa para a Cultura.

Mas aquilo estava medianamente animado - muitas pernas entre os discursos iniciais (fiquei a pensar se a brevidade de flash das intervenções inaugurais será qualidade nesta região onde o gerúndio estica o tempo como nunca tinha visto antes nas minhas deambulações geográficas) as tee-shirts, os postais chineses, os comics, as mangas, as tiras, os rascunhos, as mesas e cadeiras. Gente simpática, ao princípio ninguém me enxotou com bengala ou pontapé, e a provar a tolerância multicultural até estava lá um tipo com nome de catedral muçulmana a dar o seu sinal, a que chamam de «autógrafo».

Inspirado, resolvi também dar o meu sob a forma bem mais prosaica de mijadela, alcei a perna para outra perna - a da mesa que funciona como expositor, e cai-me violentamente, em cima das orelhas, um Splaft! voador, que se estatelou no chão fazendo exactamente Splaft! - e ficou a agonizar no chão, aberto numa página que dizia  É preciso seguir os sonhos..., assim, com reticências e tudo.

Olhei para quem me tinha feito aquilo e reconheci no olhar sorridente de uma criatura jovem, do sexo feminino, a perversidade que já há muito tempo aprendi a ler nas pupilas dos humanos.

Rosnei-lhe - que eu também sei ser, quando é necessário, flor que não se cheire - ela pôs-se a zurrar «xô! xô!», e ficámos nestes preparos, a medir forças, ela de voz estridente, eu de dentuça arreganhada - mas ainda tendo na mente as palavras É preciso seguir os sonhos agora sem reticências e, exactamente no momento em que ia dar o impulso para assentar os maxilares numa barriga da perna bem torneada de chicha - recordem-se que tinha fome, muita fome, e, embora haja quem defenda que as actividades culturais se devem realizar de barriga vazia, eu já tinha a minha cota-parte de cultura faminta - alguém me pôs a mão sobre a cabeça, numa festa sincera mas firme.

Parei, surpreso, e olhei para cima. Estava salvo: encontrara o meu pajem.

I like it!
God Save the Quen and keep us fed and clean!

Sem comentários:

Enviar um comentário