quinta-feira, 30 de junho de 2011

a nôte da vinhaça de Beja, porra!

Uauf! Eu até gostava de vos falar de um vinho assim mordente, de casta nobre, capitoso, de aroma frutado e acidez balanceada, de cor intensa, aveludado - não fosse a minha capacidade de apreciação retronasal ser infinitamente superior à vossa, seus bípedes olfativamente limitados - o que me impede de fazer parte de qualquer painel de prova.

Mas, afinal, o que eu gostaria mesmo era de não perder a possibilidade de me roçar entre as muitas pernas depiladas e perfumadas que se irão passear por aqui - e de, claro, aproveitar a oportunidade de marcar, com uma ou outra mijadela, as históricas pedras do interior dessa fortaleza militar de defesa do território luso, que aqui, tão pomposamente denominam de «Castelo».

Portanto, hão-de-me ver à entrada, na tal noite, à espera de um requintado convite ao mais alto nível - pois se aqui vim parar é porque existem responsabilidades no modo como me aliciaram, lá, na minha Grande Ilha, e me convenceram a subir a bordo de um Embraer de 49 lugares - eu, que até aqui só tinha voado em gigantes da Boeing.


E, grrrrr..., sem querer ser intrometido... nnnhhffff!... nem agora, mesmo depois de toda a confusão territorial instalada por causa de uma bandeira, se prevê - até em nome do tão apregoado salvador regional, o Super-Pai Turismo  - a mudança do pepineiro e insípido -  como a água da torneira - do título da iniciativa - a rivalizar só com os milhares de Hotel Continental ou Internacional existentes por esse mundo fora?

Beja Wine Night? Como comentou ontem o meu pajem - que está ainda estendido na cama à espera que uma alma caridosa lhe venha dar um supositório de paracetamol, uma vacina de bom-humor e dois dedos de conversa, para se provar a si mesmo que está vivo, depois dos exageros da wine night de ontem, lá na tasca do Barbosa: 

- A modes qu´esse nomi aí da Bejauainenaiti é même de parvejar, atã tel nã é a moinha? Ou os moços tã fêtos mariolas, ou fumaram umas ganzas valentes ou sã manientes que nem um pirum inglês! É qu´um home fica assi a modes qu´assarampantade com tanta azelhice! Ora, uma coisa de assim pra bresuntar o pã, molhar o bico e ir pró balharico, cum nomi desses, que nã vale um chocalhe d´erva... e querem que povo s´arrime? E ós despois, a calhar, vã é ter um lindo enterro!  Estes maganos, com tante estude, houvera de nã ser marafados e de ter a cabeça no lugar - mas qual quê, os moços d´hoji nã estã p´ra cansêras, abocanham-se à primêra puta d´idêa que vem da estranja... Olha: era mandar-lhes com umas bordoadas bem dadas naqueles costados lêtosinhos cum´as varas de marmelêro - e havias de ver se nã amanhavam logo outro nomi mais jêtoso!  Houvera de ser era a nôte da vinhaça de Beja, porra! Tenho dite.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Sorry... sorry...

Uauf! - a primeira coisa que nos ensinam, lá, na Grande Ilha, é a ter maneiras. E sim, podem pensar à vontade que isto da fleuma britânica é uma mania - que, quem já viu tanto mundo como eu, em cima destas quatro patas, não se belisca com essas ironias.

Anos e anos de chazinho desde o berço - o vosso, por sinal, ou o que era vosso, vindo de Moçambique, que sempre foi o meu preferido - inculcaram-nos nos genes memórias celulares de educação e savoir-être.

Assim - e honni soit qui mal y pense -  embora sem ter sido chamado a meter pata ou focinho no assunto, este súbdito de Sua Majestade vem pedir-vos humildemente desculpas por ter contribuído, de forma tão brutal, para cavar um pouco mais do infindável poço lusitano das contas públicas.

Só de pensar que tenho em cima do pêlo o ónus de 380 mil euros, my friends, põe-me nervoso.

Muito nervoso.

Tenho de ir a correr ali à frente, ao jarrão da Dona Margarida aliviar a bexiga.

Porque é preciso ir buscar algum alívio para certas dores -  isn´t it?

AAUUUUUUUUUUUU!... God Save the Queen and keep us fed and clean!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Cacos de Beja

Uauf! - que me perdoem os leitores mais assíduos por esta ausência, mas fiquei de súbito incapacitado da pata direita para bater as teclas do computador: um acidente, sim, uauf!, provocado pela incivilidade de uns e a incúria de outros.

Então andam por aí algumas almas zelozas a olhar para o chão a ver se encontram um rasto de urina, umas fezes descuidadas que não tenham sido cuidadosamente depositadas numa moita, a ver se apontam o dedo inquisidor a qualquer cauda que abane (a inveja de nos verem felizes!...) e não baixam a cabecinha para cheirar e apreciar o rasto de imundície e descuido que só pode ser imputado a Vªs Exªs, os bípedes bejenses!

E então vai uma alma descuidada e alegre como a minha em passeio descontraído pela mata desta cidade - nitidamente um espaço que entrou em autogestão florestal - a ter de se desviar dos carreiros abertos por entre toneladas de folhas secas, galhos quebrados e um embaraço de plantas espinhosas, de modo a poder dar lugar aos pobres de Cristo que, mesmo à torreira do sol insistem em correr como doidos - mas... fugindo de quem, de quê? - porque, de olhos esbugalhados, coração na boca, pele desidratada e auriculares nos ouvidos já não vêem nada à frente, nem sequer uma hesitação para parar - e eu sou um gentledog, dou sempre passagem - e quando salto para o lado, tenho de ter a precisão de um pára-quedista em busca de terra firme, para não aterrar em cima de cardos, latas de refrigerante, sacos de plástico, tábuas com pregos,  brinquedos partidos, lenços conspurcados, garrafas de plástico, cacos de tijolo, e... de vidro!...

E pois, of course, ao princípio não senti nada, mas depois, sim, confesso, gani - não sei se da dor se da estupidez de me ter deixado espetar por um pedaço de vidro afiado - e foi a ganir e a coxear que me arrastei até casa. O meu pajem veio esperar-me ao terraço, e, ao ver o rasto de sangue, desmaiou de imediato. 

Uivei perante aquela inépcia de quem, afinal, me deveria tratar, chamando a atenção da minha querida Dona Margarida, que - eu sou um sentimental, que querem, esta opção vai ficar para sempre registada no meu hipotálamo - ao ver-nos a ambos - o meu pajem dormindo no chão, e eu, a uivar de dorida incompreensão, pegou em mim e levou-me para sua casa - onde cuidadosamente  retirou, com a pinça de depilar as suas farfalhudas sobrancelhas - com as quais trava uma inglória luta diária - o vidro agressor. Lavou-me a ferida com uma coisa escura que tem nome de estrela de cinema francês - Geraldine, Bettydine, já não me lembro, ou, como diriam os nativos de aqui, «nã me alembra que tenho a cachola fervente» - e, dando-me uma palmadinha no quadril, disse-me, confiante

- Vá, vai andando, qu´isso é carne de cão e é melhor secar ao laréu!

Dei-lhe uma lambidela por aquela do laréu, que me soou tão bem. Atravessámos a rua e o meu pajem continuava estendido, pelo que foi necessário dar-lhe uma mangueirada, que o acordou de imediato.

- Atã home, é assim que trata o canito? Tanta força p´rá vinhaça e nã tem tomates p´rum bocado de sangue, home dum cabrom! - atirou-lhe a Margarida, e voltou-lhe costas.

Fiquei ali sentado a olhar para a tentativa de levantamento do meu esforçado pajem - agora luzindo um alto roxo no centro da testa, em monstro ciclópico, como se tivesse sido caracterizado para um qualquer filme do Anderson - a tentar perceber aquela ligação entre o vinho, os tomates e o sangue - mas pressupus que se referisse a uma iguaria gastronómica. Fiquei encantado foi com o «canito».

Canito... canito...é musical, não acham? Uf... uauf... esta jornada alentejana cansa.

Que não nos faltem os sofás para as merecidas sestas.

God Save the Queen and keep us fed and clean!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dia da Torneira

What a day! O meu pajem acordou hoje visivelmente bem disposto, abanou, à frente do meu focinho, uma caixa, onde qualquer coisa no seu interior se deslocou ruidosamente, e anunciou:

- É hoje! O Dia da Torneira!

A torneira - the faucet - é um objecto crucial no estancar ou jorrar de conteúdos. Geralmente água - mas nem sempre. Há quem feche a torneira das notícias, quem abra a torneira das condecorações, quem feche a torneira dos empréstimos, quem abra a torneira da emigração.

E assim, com uma boa disposição e energia invulgares, trauteando o Toreador razoavelmente afinado, dispôs-se, enfim, a substituir a torneira da cozinha cujo pinga-que-pinga há muito dera lugar a um fio de água constante, e, de há 48h para cá, obrigara ao fechar de outra faucet, a da segurança.

Eu mantive-me no  sofá, embalado pelo refrão «Toreador, en garde, Toreador, Toreador!», enquanto retirava, do pó da arrecadação, a maleta com meia dúzia de ferramentas, enferrujadas pelo desuso dos anos. Manter o nosso pajem entretido e satisfeito é meio caminho andado para a nossa tranquilidade - e, como, com os anos, vamos ficando mais sábios, cabe-nos orientar a permanente insatisfação e a excitabilidade humanas para actividades que nos deixem, a nós, canídeos, sossegados no nosso canto.

Interrompeu subitamente a canção quando, retirando uma chave inglesa - modesto contributo da Inglaterra aos mecânicos,  canalizadores e jogadores de Cluedo de todo o mundo - percebeu que os seus rolamentos estavam de tal modo colados e perros que nada havia a fazer. O rosto contraiu-se perante aquele contratempo - não, NÃO!!! Hoje tinha sido designado o Dia da Torneira!

Sentou-se, com aquela melancolia depressiva que tantas vezes o assalta, segurando a cabeça entre as mãos.
Eu sabia que tinha de despertar do meu lânguido torpor, se queria ter um dia pacífico; assim que saí porta fora e fui chamar a Dona Margarida, do outro lado da rua, uma boa alma, sempre pronta a escutar o outro - e que, aos meus latidos, supôs logo que a casa estivesse em chamas.

A Dona Margarida veio correndo como pôde atrás de mim, nos seus chinelos arrastados, entrou em casa e deu com a cabeça caída e segura por ambas as mãos do meu pajem - que ficou bastante embaraçado pela inesperada visita.

Palavra puxa palavra - muito precisam os humanos de falar para se entenderem! (e, por vezes, nem assim...) - a Dona Margarida saiu apressada para logo regressar de sorriso no rosto - e de chave inglesa na mão.

Como é fácil contentar um macho humano ferido pela desilusão! Apenas com a visão da chave inglesa, logo se animou e recomeçou a cantoria; a Dona Margarida seguiu-o para a cozinha comparando-o, embevecida, a um Carreras -  e eu, do sofá, pude, de vez em quando, erguer a pálpebra para seguir os acontecimentos.

Que se relatam deste modo: 
- retirou a torneira da parede (sempre cantando, a Dona Margarida aplaudindo), 
- colocou a torneira nova nos orifícios da parede (lançado em poderoso canto, já depois do refrão, a Dona Margarida, de braços roliços, segurando na torneira, enquanto ele torturava as roscas com a chave inglesa )
- pediu - sempre cantando, numa perigosa euforia - à Dona Margarida para ir ao pátio abrir a torneira de segurança, «por favooor... » (em si b) 
- constatou que a nova torneira não só não pingava e, que, portanto, vedava competentemente  a água, como que abria e fechava na perfeição (a Dona Margarida, feliz, regressando do pátio, e, pelo caminho, dando-me uma coçadela nas orelhas)
- e, num daqueles repentes que decidem o trágico destino dos homens, lançado de chave inglesa em riste, decide apertar mais e mais o que já estava sobejamente apertado (a Dona Margarida esbracejando com as mãos em aflição de sinalização para a avioneta que se parece despenhar); ouviu-se um «crac» surdo - e, de pronto, antes mesmo que a água começasse a jorrar furiosamente por entre as juntas da torneira, em todas as direcções - percebemos que a rosca partira, e a torneira nova se tornara, definitivamente, inútil. 

Completamente encharcado, o meu pajem parecia ter sucumbido perante o peso dos acontecimentos. A Dona Margarida retrocedeu o caminho para o pátio, ao socorro da torneira de segurança; procurou depois uma toalha para o secar, e suplicou-lhe que mudasse de roupa, enquanto lhe fazia um chá.

Como o chão da cozinha ainda está alagado, e a água começa a chegar à sala, para prevenir qualquer escorregadela, saí de casa em busca do canteiro mais próximo que me mereça uma mijadela. This little town está estranhamente parada. Parece que os bejenses levam muito a peito a celebração, em recolhimento e em exercício de mea culpa nacional, de um ilustre zarolho que deixaram morrer de fome e de esquecimento enquanto legava, às gerações futuras e ao mundo, a melhor poesia portuguesa.


God Save the Queen and keep us fed and clean!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Grrrrr....

Hoje vou ser directo e talvez um pouco rude. Mas já me disseram que a rudeza é uma característica dos nativos de aqui. É-nos difícil compreender, a nós, que temos nos genes séculos de fleuma britânica, que os modos de relacionamento sejam, neste canto da Península Ibérica, ainda tão primários - com as invejas mal escondidas, as raivas adormecidas e as dores de cotovelo a arderem por... well, anything.

Ia a farejar num sítio que vocês em Beja chamam de Portas de Mértola, mas onde não vi nem um batente, quanto mais uma porta - embora ache interessante esta vossa capacidade de abstracção - quando o meu ouvido apurado percebeu, por entre a fala de meia dúzia de machos humanos que, nitidamente, se coçavam na parede, que falavam de... mim!

De mim???!!!... Uauf!

Apurei o ouvido - perplexo por merecer assim a atenção dos bejenses -  a tempo de perceber que o tema se resumia, no fundo, a uma certeza, que, no calor da discussão, ficava lavrada e assinada por todos os basbaques.

E a certeza era esta: eu mesmo - the dog - não seria eu, porque, afinal, tendo aterrado há apenas pouco mais de duas semanas em Beja,  nascido e criado nas terras de Sua Majestade, não poderia dominar o português com esta destreza e facilidade!

Ora, a esses incréus, só me resta uma pergunta, que, de tão óbvia, vai já acompanhada de uma valente mijadela:

- E, por acaso, nunca ouviram falar do Google Translator???!!!...

God Save the Queen and keep us fed and clean!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Glamour de Beja

Esgueirei-me de novo pelo portão e fui ter com a Fifi à Praça da República. Estava sentida comigo, por não dar um cheiro de mim há dois dias, e levei com um ralhete de latidos que me fez amochar as orelhas (também é para isso que elas servem). Aquilo passou-lhe depressa - oxalá os bípedes  humanos pudessem aprender connosco - e, como hoje não chove (enfim!) e o sol lá se dignou aparecer, ela quis mostrar-me this little town - e, sobretudo, um novo sítio onde podíamos ir apreciar a fauna nativa numa das suas actividades favoritas: comprar, comprar, comprar.

Fomos a trote, de caudas bem levantadas e juntinhos, sempre descendo, em direcção ao sul, num festote de mijadelas em postes metálicos - vocês têm cá muito disso! - em pneus - uauf! fugi a tempo de uma bota de um taxista, grrrr!... não sei porque é que não dão valor à honraria da escolha que faço - e em esquinas; eu, claro, que ela comportou-se como fêmea recatada, esperando por um bom nicho de relva para se agachar.

E lá chegámos ao sítio do Glamour Contagiante bejense, que, embora não tendo estrelas de cinema nem encantos de restritas wine nights, não deixa de merecer uma visita.  Ficámos cá fora - sabemos bem que cão não entra (e muito menos em loja de chinês! Da China chegam-nos péssimos hábitos alimentares!) . E assim ficámos, sentados a mirar para os abat-jours coloridos da montra e toda a parafernália de objectos a perder de vista, aos quais os nativos bejenses se esforçavam, em rodopio de constantes entradas, em encontrar alguma utilidade.

O ritual consiste, basicamente, em  passear por entre corredores cheios de prateleiras, tentar perceber para que serve este ou aquele objecto, puxar do telemóvel e gritar à prima ou à vizinha  - com aquele tom cujo treino ancestral de chamada dos borregos na planície inculcou um vozear  geracional de garganta aberta, em que a todo o momento se espera que as tripas saltem cá para fora - onde se está e se ela não precisará disto ou daquilo, experimentar levar dois ou três ou trinta objectos, esperar numa fila o tempo que for necessário, suspirando pacientemente, até chegar a sua vez,  pagar e sair de saco de plástico na mão.

E assim, eu e a Fifi vimos uma amostra variada de humanos, que de outra maneira, não teríamos oportunidade de ver tão concentrada: exemplares seniores (muitos)  adultos e juvenis, gordos e magros, enérgicos e passivos, de forte e de fraca compleição - uma oportunidade única, garanto-vos, se bem que muito longe do glamour e da diversidade étnica que observava na nossa Harrod´s.*

As pessoas, de um modo geral - e os nativos de Beja não fogem à regra - não sabem o que hão-de fazer ao tempo que têm, e insistem sempre em comprar ou vender qualquer coisa. Parece ser um desregulamento genético da raça humana.

Ainda não perceberam que as melhores coisas desta vida não se trocam por dinheiro: uma boa sesta ao sol, o cheiro húmido da erva do campo, umas coçadelas nos costados - e, claro, respirar o mesmo ar na companhia de quem se gosta. Olhei para a Fifi. Estava na hora de a levar a casa. E de verificar se o meu inconstante pajem me cozinhara os fígados de galinha.

A passeata por Beja aguçou-me o apetite. Não descortinei qualquer glamour, mas contagiei-me na mesma.

I like it!

God Save the Queen and keep us fed and clean!



 *Aliás, uauf!, aconselho-vos a darem lá um salto, num destes voos domingueiros Beja/ Heathrow, partindo, por exemplo, no dia 18 de Setembro e regressando a 25 - uma semana não é nada para se fazer compras em Londres!  O custo da viagem Beja/Londres/Beja é de 230,00€, mas, se quiserem ter a maçada de passarem pela vossa capital, podem seguir e voltar por 86,42€.  

Eu sei que a opção é difícil - entre o  vão orgulho de levantar voo em terras alentejanas, e a perspectiva de poder gastar a diferença em mais alguns objectos que hão-de atafulhar a vossa casa... mas... vivemos num pais livre, uauf!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

the day after

Continuam os dias cinzentos por terras de Beja, uauf! Deve ser para que não tenha saudades da minha Londres distante. Mas, com tanta distracção que tenho por aqui, nem sequer tenho tido tempo para essas armadilhas da memória.

Ocorrem-me uns versos rasgados a canivete na porta da casa de banho da tasca do  Barbosa, um tipo que  mais se parece com o barbeiro de Fleet Street  em versão macho luso - isto é, com uma barriga  avantajada de cerveja, torresmos e outros mimos culinários que vos encurtam a esperança de vida  e cujos sinais vocês parecem desprezar- e que serve, gritando, versos  seus e de outros, entre os copos  de tinto que afunda no balcão.  Como ontem à noite tive de ir lá buscar o meu pajem, que bateu - muito desagradavelmente - com a porta de casa depois de ouvir não sei que notícias, e que vim encontrar, duas horas depois, de cabeça perdida dentro da sanita  (asquerosa) do Barbosa a vomitar, pude atentar nesta pérola literária, gravada a lâmina na tinta do contraplacado do lado de dentro da porta:

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final.
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo
necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas
que precisamos viver.

Não sei quem foi o sábio, estava assinado por alguém que se intitulou apenas de «Pessoa». Ainda há gente descomplicada.

A conversa, no Barbosa, exaltava os ânimos, e toda a gente parecia querer falar ao mesmo tempo, isto é, toda a gente que ali estava  - com as mãos ocupadas com  dados, copos, ou coisa nenhuma:  um idoso de muletas, dois maridos de olhar vago, um jovem tatuado, um jovem desdentado, uma criança deslocada, dada a hora e o local, e a mãe do miúdo, de rabo de cavalo a prender o cabelo oleoso, e com evidentes marcas de ser dependente da fêmea do herói. O tema que os afogueava e que os atiçava - como se estivessem a defender o portão da casa da invasão de estranhos - circunscrevia-se,  creio, aos universos das rosas e das laranjas; por mim, acho que se excederam na defesa das suas preferências olfactivas - sobretudo quando o sítio tresandava a ovo estragado, a urina depositada e a insecticida. 

Como todas as preferências,  não passam de um ponto de vista: onde há quem veja a garrafa meio cheia,  outros vê-la-ão meio vazia - mas, apesar de a garrafa ser sempre a mesma, há quem morra e mate por julgar o contrário. Os pontos de vista podem, no entanto, ser importantes: vocês, primatas verticais, tendem a fixar-se na cabeça uns dos outros: assim, onde vocês vêem aquilo que vos é dado a ver - corte de cabelo, barba feita, sobrancelhas depiladas, sorriso treinado - nós temos a vista ao nível da evidência que se tenta esconder:  solas gastas, sapatilhas no fio, sapatos com as costuras a rebentar.

Empurrei o melhor que pude o meu pajem até casa - a subida da ruela, que geralmente ele faz em 5m, demorou-nos mais de uma hora - entre soluços, choradeiras e cantorias. A Dona Margarida (aqui todas as mulheres são donas de qualquer coisa, mas penso ser um título honorífico, assim como o nosso «Sir»), uma balzaquiana bem nutrida de carnes e de bom coração, que tem rendas na janela - decerto para que os mosquitos não lhe entrem em casa - e que já por mais de uma vez me chamou de soslaio para me dar, na mão gorducha, suculentos pedaços de frango, assomou-se quando nos viu, e foi logo rudemente interpelada pelo meu pajem, que, tratando-a descortesmente por «tu», lhe perguntou não sei o quê, ao que ela respondeu rispidamente ter feito qualquer coisa «em branco». Percebi que ele ficou atónito e incrédulo - talvez porque pensasse que ela pintasse (mas o quê?... um quadro? uma natureza morta? maquilhagem? decoração?...) com outras cores - talvez o rosa, talvez o laranja - e entrou em casa como saíra, isto é: batendo a porta.

Eu dei um ganido à Dona Margarida que representava um pedido de desculpas por quem se comportara como um saforil. Ela sorriu-me - e esse sorriso aqueceu-me o coração, após o bulício confuso da noite.

O meu pajem não conseguiu passar do tapete da entrada: caiu e adormeceu.

Agora que me encontro estendido a quatro patas  no sofá, ocorrem-me, de súbito, estes versos de Shakespeare:

Se nada é novo, e o que hoje existe
Sempre foi, por falha a nossa mente
E, se esforçando por criar, insiste,
Parindo o mesmo filho novamente!

... porquê, afinal, tanta algazarra? 

RRrrrrrrr.... sinto-me um pouco tonto. Acho que é dos vapores que o meu pajem ressona.

Rrrrr... God Save... the Queen...
... and keep us... fad...
... and,,, rrrrr... rrrr... clean.

domingo, 5 de junho de 2011

some very typical things

Uauf! Não sabia que aqui também chove cats and dogs! Que sorte termos acabado de chegar ao conforto do lar quando rebentou a tempestade! Fui acompanhar o meu pajem a uma obrigação qualquer que tinha, hoje - aquilo foi rápido, entrou nos Paços do Concelho com um cartão na mão e muitas dúvidas no espírito - nós, os cães, conseguimos ler estas coisas - e saiu de lá ainda mais angustiado. Ainda bem que aquilo durou pouco tempo - seja o que for a que o sujeitaram, não quero que ele sofra, coitado - como aconteceu naquele dia em que andou à minha procura, desesperado.

Chegados a casa, a preocupação não se lhe apagou do espírito, pois quando caiu a borrasca, era vê-lo a levar baldes e alguidares escadas acima, a resmungar sobre telhas e sobre a falta de dinheiro para mandar arranjar o telhado.

Fiquei no sofá a pensar que ele precisava de companhia; feminina, claro - para, por exemplo, o ajudar a carregar baldes - mas é preciso ter muito cuidado com quem se mete em casa: é só um narizinho mais avesso ao cheiro de cão, uma glândula mais sensível ao pêlo, uma sensibilidade mais afinada para os restos de comida que saltam da tigela para o chão - e olá alergias, olá pensamentos como «tenho de me livrar do cão», olá convencimentos de que «o cão ficava melhor era lá fora», e... adeus sofá.

Também é certo que sou muito cioso da companhia solitária com o meu pajem: escolhi um bom exemplar, não é nada parvo, aprende depressa as lições que lhe dou. A última foi convencê-lo a desistir de me levar à rua de trela - God!, depois daquele arrastamento no Parque da Cidade, jurei que teria de aprender. Assim que, depois de vários puxões, de me recusar a andar e de me emaranhar nas suas pernas, logo à  saída de casa, que é quando a vizinhança pode dar conta do acontecimento (e ele, de se sentir envergonhado), desistiu.

E foi lado a lado que o passeei ontem por uma coisa que aqui chamam de Festival do Amor - e que nada tem a ver com as nossas Love Parade, onde abundam os rapazes de bigode, de tronco nu - rapado e oleado - e musculados como divas. Esta é uma really different party. Afastei-me da música nocturna, pois sempre defendi a saúde dos meus ultra-sensíveis  tímpanos - e porque, depois de  evolutivos cruzamentos de gerações, nós, os canídeos, já nos libertámos dessa necessidade do sentir em matilha, que parece estar subjacente à concentração das movidas.

Passeámos pois por entre umas curiosas edificações que me disseram ser  a very typical portuguese thing, chamadas de  barraquinhas - e que parece que, em tempos, foi também um produto  bastante exportável, sobretudo para os arredores de Paris. 

De barraquinha em barraquinha - marquei-as a todas, com mais ou menos jactante mijadela - passámos pela da Ginja de Óbidos - o meu pajem provou e ainda pediu outra - às de aconselhamento sexual a jovens estouvados. Para meu deleite, encontrei a Fifi -  baixei as orelhas, pois senti aquele pesadelo com o qual os humanos convivem tão bem - a culpa - ao lembrar-me do que sentira, há apenas uns dias, pela Greta Garbo.  

And well, life goes on - não pudemos patinar nas lajes como da outra vez, pois estavam  muito  sujas e peganhentas - e nesta distracção, perdi o meu pajem, que, claro, tinha ido fazer asneira à barraquinha dos beijos: aquilo é para comprar? E ele nunca ouviu falar em herpes labial?  Não, nunca nos podemos descuidar quando passeamos o nosso pajem. Nesta altura pareceu-me que já estava estranhamente alegre, insistia em comprar-me uma coisa chamada pulseira do amor e chamava-me insistentemente; lá me apresentei  para o óbvio: quando o sorridente vendedor me ia colocar a fita ao pescoço  dei-lhe uma rosnadela tão ameaçadora que o meu pajem se desfez em desculpas e afastou-se rapidamente. O que eu queria, isso sim, era que ele me pagasse uma massagem ao pêlo na barraquinha onde se encontrava um lindo exemplar feminino de pessoa - mas entretanto já ele andava a pagar por uns papelitos que davam imenso trabalho a desenrolar - e que só serviam para, depois de se lerem uns gatafunhos que pretendiam ser conselhos de vida, deitar fora - como, no fundo se faz a todos os conselhos vindos de desconhecidos.

A Fifi aconselhou-me a levá-lo para casa - assim que desatei a correr até que ele viesse atrás de mim, esbaforido. Foi uma corrida louca, por entre ruelas e pessoas idosas, até chegarmos a casa.

À parte o clima - que  tem revelado a publicidade enganosa dos folhetos de vários operadores turísticos britânicos - Beja me mata!

I like it!

God Save the Queen and keep us fed and clean!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

she...

(...)

E assim, de repente, chego ao Parque da Cidade, que tem o cantinho mais bem-cheiroso de toda a cidade: o Jardim de Cheiros. Um autêntico delírio: aquilo será rosmaninho? E aqueloutro, jasmim? Distribuí mijinhas curtas e salpicantes por todas as plantas que encontrei, numa rega deveras equitativa - e saltei que nem um louco, embriagado por esta festança olfactiva.

E estava nesta cabriolada embriaguês quando me surge em frente a criatura mais divina que alguma vez conheci. Nunca, nem nos meus sonhos mais... hmmm... mais.... criativos, pudera imaginar semelhante beleza. Ela fitava-me, assim surgida à minha frente, de repente, num porte de natural distinção, assente em décadas de aristocrático apuramento genético. Engasguei-me, parei imediatamente os saltos, mas pensei que ia morrer: não conseguia respirar, o coração parecia querer saltar-me pela boca - de onde corria uma vergonhosa saliva, que não conseguia estancar - as pernas tremiam-me, estupidamente abertas para me conseguir manter em pé. Assim, a babar-me da canseira e pronto a desfalecer, quedei-me uma eternidade - entregando-me à visão daquela maravilhosa e enigmática Greta Garbo de pêlo felpudo.

E o que aconteceu a seguir... tenho bom coração, mas não sei se alguma vez lhe conseguirei perdoar.

Surgiu do nada, empunhando uma horrorosa trela, de olhos muito abertos, uma expressão no rosto capaz de afugentar um cherne com ambições de seguir rumo às estrelas (embora com dificuldades: Ad astra per aspera).  Ei-lo pois, o meu pajem, aquele que me deveria servir com deferência, pronto a humilhar-me em frente de toda a... a...!!!... Dela!!!... DELA!!!

Sem misericórdia - ou sequer uma ponta de solidariedade masculina - enlaçou-me o pescoço e começou a arrastar-me atrás de si, enquanto repetia que nem um possesso: «Junto! JUNTO!!!».

Ela começou a desaparecer no meu horizonte, sem se mexer sequer, qual deusa imune a qualquer impropério - e foi quando reparei no purgatório que se estendia à minha frente: dezenas de companheiros que pareciam ter saído de uma sessão de tortura de pentes, corta-unhas e tosquias enchiam aquele sítio - que de Mata passara a Parque - prisioneiros em gaiolas torcionárias, aguardando sabe-se lá o quê, enquanto outros troteavam o seu adestramento parolo numa exibição da lição nº1 de qualquer manual canino - seguir o «dono» ao lado da sua perna esquerda, vejam lá a dificuldade, ao comando de «junto, junto» - na esperança de levarem para casa - esperança humana, evidentemente - uma daquelas taças que se enchem de verdete ao fim de um mês (10 dias se a levarem para a minha doce Grã-Bretanha - de onde senti, pela primeira vez,  perante estes desagradáveis acontecimentos, aquilo a que vocês chamam de «saudade»)

Assim passei eu por aquela exposição de vaidades humanas - também ao comando irado do «junto» do meu pajem, mas arrastado pelo pescoço, o que lhe valeu risinhos trocistas e comentários jocosos por parte de vários especímenes da sua raça.

Chegados a casa, cada um foi para o seu canto - isto é: eu fui para o sofá. Esperava pelo jantar, quando, em vez da tigela, o vejo aproximar-se com um jornal enrolado na mão. Eu também conhecia os manuais, sabia o que vinha aí: um bater violento com o periódico no chão, e uma  indicação de «Não! Não!»; o jornal faz barulho e deverá assustar-nos, reforçando a ideia negativa - porque aliada a uma situação assustadora - do nosso comportamento. O culpado é um tal Pavlov,  uauf! 

Já vi companheiros de andanças urinarem-se só com este ruído aterrador. Mas não passa de um ruído. Se nos focarmos em que é o medo que nos tolhe, e que um jornal que é batido violentamente no chão faz, naturalmente, muito ruído, poderemos adormecer em paz, esperando a exaustão física  de quem o bate, como um louco, no soalho.

E foi o que aconteceu: fincou-se de joelhos no chão, com os seus olhos muito abertos à frente dos meus (eu já estendido no sofá, de pálpebras semicerradas) e, como quem implora,  dirige-se-me, estranhamente,  pela primeira vez, por monossílabos, repetindo-se muito: «Não! Não!» «Cão feio! Feio! Feio!» «Mau! Mau!» «Não foge! Não foge!...Nãããooo... »

Um pouco apreensivo com o estado cerebral do meu pajem - poderia ter ele comido algum pepino sem que eu reparasse? (às vezes, acontece) - adormeci tranquilamente com a imagem cintilante da (minha) Garbo.

Beja... I like it!

God Save the Queen and keep us fed and clean!


terça-feira, 31 de maio de 2011

Mata! Mata!

É incrível o que um pequeno sítio - a small village - como Beja tem para oferecer, quando o sabemos aproveitar. Basta olhar à volta: esquinas em profusão, apesar de tudo algumas árvores - sim, são precisas muitas mais a ladearem os passeios, pois já me aconteceu andar de bexiga apertada sem ter onde marcar território, e bem precisaria, para garantir a sinalização de regresso a casa.

Ontem, depois da refeição e de um breve sono reparador,  quando o meu  querido pajem me quis apresentar à vizinha  do lado - uma típica velhota dos gatos, dessas rijas,  que duram 100 anos e enterram três maridos, capazes de nos perscrutarem a alma e entenderem o cerne da nossa identidade animal - esgueirei-me pelo portão em busca de libertina  e necessária vadiagem, deixando para trás gritarias de desespero. (Dele. Ela ficou estranhamente quieta - e creio que sorria.)

Corri o mais que pude e fui ter a um pardieiro de cardos e de juncos secos  - um cenário de devastação pronto para uma filmagem de campo de batalha da  II Guerra: tratava-se da Mata (lá está:  «fere! MATA! morre!») chamada dos Alemães. Acabei comovido, pensando que eles (os alemães) também se hão-de render a esta singela homenagem que a população de Beja presta à Chanceler Ângela, um vosso Anjo da Guarda, capaz de evitar as diatribes dos vossos líderes, segundo me consta. Abandonei o sítio a quatro patas quando percebi que aquilo era um berço de carraças - sugadouras impiedosas do nosso sangue, e fiéis depositárias das mais perigosas doenças, algumas mortais.

Atravessei uma rua e dei de caras com uma espécie de acampamento cigano - isto é: com roupas estendidas, vário lixo espalhado, uma ou outra decoração mobiliária ao ar livre, restos de fogueiras, mulheres gesticulando, homens gritando, crianças em desalinho - mas sem acampamento, o que prova, por um lado, a adaptação destes Gipsy Kings à cultura do cimento, e, por outra, nos dá  uma dimensão da  sã convivência multicultural, tão apregoada pela agonizante civilização que tem consentido a defesa do manifesto da integração e tolerância em sentido único. Em tempos, também tivemos disso, lá na nossa Grande Ilha.

Pus-me a milhas (pois, traduzam lá isso para metros) quando um miúdo de sorriso premonitório -  decerto com as melhores intenções - se aproximou de mim com uma corda na mão.

Passei por uma piscina coberta - mas afastei-me rapidamente, que os eflúvios de cloro são veneno para um narizinho como o meu - e entro então num terreno baldio sem qualquer interesse - e que, estranhamente, estava impregnado de cheiros de urina e fezes de... leão!!!!  Mas... há leões em Beja? Alguém me avise, por favor, seria bastante desagradável dar com um na volta de uma esquina!

Este terreno - árido e triste como um discurso pré-eleitoral - impedia-me, através de umas redes ostracizantes, de cheirar, pisar e saltar por cima do fresco verde de uma relva  bem tratada, onde  meia dúzia de homens vestidos de rapazes corriam - invectivando-se uns aos outros com nomes e expressões que me inibo, por pudor canino, de revelar - atrás de uma bola, como se fossem estouvados cachorros de seis meses. Ao lado, atrás de outra rede - grrrr!... -  aqueles que pareciam ser os seus pais,  fixavam, numa obsessão delirante -  com uma excitação que me remeteu para  um pitbull do West End, de nome Golias, cujo permanente cio o escravizava de tal modo que acabou por morrer de exaustão copulatória -  minúsculas  imitações de bólides de Fórmula 1, que, por sua vez, zuniam no ar como insectos invasores de um daqueles filmes apocalípticos que as famílias, reunidas na paz do lar, tanto gostam de partilhar nas doces tardes de domingo.

Fiquei a perceber então, por associações que o meu estimado cérebro conseguiu fazer, que estas actividades humanas - corridas com bola, corridas com carrinhos, e sofá com filmes de terror - se enquadram numa vasta e importante área de actuação humana, denominada DESPORTO.

E foi com esta reflexão que cheguei à desinteressante Mata das Merendas. Penso, no entanto, assinalar este sítio no Google Maps para preciosa informação de companheiros errantes, pois reparei que haverá sempre uns restos de pão ou de galinha semeados em volta das mesas de pedra; há também  fartura de água  - e é tanta a que corre da torneira que há quem lhe dê o bom uso da higiene automobilística (sim: para que é que a água há-de ficar nos canos?) formando, aqui e ali, as necessárias poças para que quem não dispõe de dedos gigantes que agarrem e façam girar as torneiras - como nós, animais de patas - lhes dê  o outro uso - menor, eu sei - de acalmar a sede.

De Mata em Mata, chego, finalmente, à... Mata (Uauf!... é uma mania bejense, esta, da repetição toponímica) .

A Mata é óptima para travar conhecimento com os bípedes nativos que andam por ali aflitos, fugidos ainda não percebi de quem, mas de algo muito ruim há-de ser, pois apesar do sofrimento ofegante, não param, nem sequer olham para trás, para o seu perseguidor. Fiquei alerta - e  passei a vigiar discretamente os costados,  atento ao mínimo ruído suspeito - não fosse também ter de começar a correr de algo ou de alguém.

(to be continued)


segunda-feira, 30 de maio de 2011

acertei!

Acertei no meu pajem! É um macho sénior (sem, portanto, os devaneios próprios da juventude), com boas pernas (essencial para passeios) boa dentição (a saúde acima de tudo) e, sobretudo, boa alma (vê-se, na aura) . 

Pois ao ver a megera que me queria enxotar de evento público - o Festival de BêDê de Beja, lembram-se? - tentou acalmar-me, dando-me umas festas no pescoço. Eu estava furibundo - continuava a rosnar à adolescente enraivecida e ela media forças comigo - e a minha primeira reacção - impensada - foi fincar-lhe os dentes nos dedos, a ele, que nada tinha a ver com o assunto; ao grito de dor, larguei a presa inocente e olhei-o nos olhos em 45/45: resulta sempre com as boas almas.

A rotação 45/45 é uma técnica de translação da cabeça em 45º para a frente e na diagonal, seguida de rotação de 45º. Deve ser realizada sentado. Ficamos assim, com ar de cachorro meio abandonado meio inquiridor, como se o outro decidisse da nossa sorte nesse instante - e, até hoje, não encontrei ninguém que resistisse a esta atitude - à excepção da  Margaret, com quem estabeleci em tempos uma cruzada de encontros aparentemente fortuitos, na altura em que sonhava viver em palácios com mordomias - mas todos sabemos  que essa dama de ferro tinha um coração de aço.

Ainda não percebi bem a ocupação deste meu pajem, nem como se chama. É um ser solitário, e isso agrada-me. Levou-me para sua casa, na cintura de Beja -  mas já verifiquei que, aqui, tudo fica muito próximo, as distâncias entre pontos do perímetro da cidade não se comparam nem sequer a uma avenida londrina.

Casa simpática, um daqueles edifícios modestos que aqui se chama de moradia, muito parecido com os que a Grã-Bretanha construía no meio da selva para os nativos da África do Sul; deu-me banho e comida.

Do banho de água fria não pude fugir, mas terei de o fazer perceber que o próximo não poderá ser no terraço, à mangueirada (embora com shampoo amaciador com cheiro a pêssego): a banheira e a água quente canalizada são expoentes da civilização romana que aprecio e que julgo não terem ainda caído em desuso.

Em relação à comida, tive de me refrear, apesar da fome. Há coisas em que não podemos transgredir nem um milímetro, temos de ser firmes se queremos manter o nosso pajem educado. Evitei salivar quando vi os pedaços insossos de comida seca na tigela, e deitei-me ali mesmo no chão, com os olhos fechados, como se estivesse à beira do desfalecimento. Ele resmungou qualquer coisa e saiu de casa. Voltou pouco depois, com três latas de pedaços húmidos industrialmente tratados - nomeadamente soja, decerto transgénica, com aditivos olfactivos de fazer salivar um leão - mas, ainda assim, tive de lhe mostrar que, em relação à comida, não pode haver meias medidas: somos também aquilo que comemos, e a tolerância para a fast-food é zero.  

Cheirei, procurando conter-me para não devorar, de imediato, a lata inteira, deitei-lhe um olhar de misericórdia e voltei costas. Fui deitar-me no sofá, território de que me apropriei - após a desistência do meu pajem em me sacudir ao quinto assalto - como vêem, foi fácil mostrar-lhe quem manda, nas situações de que depende a nossa qualidade de vida.

Ele ainda aproximou a tigela do meu nariz, no sofá, a voz dele agora era adocicada, quase melodiosa, mas, como acontece frequentemente aos seres humanos que são contrariados nas suas expectativas mais evidentes, passou para um tom rouco, como se rosnasse, e depois seguiu o protocolo esperado: da ameaça passou aos gritos, ainda de tigela na mão, depois à agressão física, enfiando-me o focinho na papa, cujo cheiro me ia levando à loucura - «deliciosos pedaços húmidos de coelho», penso eu - para passar depois à depressão, cambaleando, melancólico, pela sala - sempre de tigela na mão - e, finalmente, para o arrependimento, sentando-se, com um suspiro, a meu lado. 

Eu, impávido, de olhos revirados - como o mártir São Sebastião, recebendo as flechas da injustiça, da prepotência e da ignorância humanas.

Finalmente: deu-me uma festa na cabeça que desceu pelo pescoço e costas. No meu ouvido interno soaram, triunfantes, as trombetas de uma vitória anunciada.

Só descansei, no entanto, quando ele voltou a sair porta fora, e o vi, pela janela, para onde me esgueirei, curioso,  chamar os gatos da vizinhança, que acorreram, em miados operáticos, para o repasto inesperado. 

Sempre ouvi dizer que a Educação é o bem mais valioso de todas as sociedades, e que o investimento nesta área nunca deve ser descurado, nem sequer em tempos de crise. Este investimento exige paciência, dedicação e esforço para atingir os objectivos que têm de estar claramente definidos, sem azo a dúbias interpretações. O episódio de hoje com o meu pajem é a demonstração viva de que se atingem resultados francamente positivos quando não se transige com a mediocridade ou a suficiência. E, nesta área, vocês, portugueses, deveriam aprender com os britânicos.

A prova deste sucesso está na tigela repleta de fígados de galinha com arroz que tenho à minha frente, a esfriar de uma cozedura branda. Uauf!... estou exausto... mas o meu pajem alentejano vai lá. É um pouco tosco mas...

... I like it!

God Save the Queen and keep us fed and clean!



domingo, 29 de maio de 2011

Splaft!

Sorry não ter dado notícias ontem, mas encontrar um pajem tornou-se prioridade. Afinal, o sol do Alentejo parece uma miragem da publicidade enganosa da agência que me trouxe cá, chove e venta, a temperatura desceu, a fome cresceu, e tornou-se mesmo imperioso arranjar malga e tecto.

Farejei até onde havia um aglomerado de gente. Encontrei os bípedes em volta de livros e cadernos cheios de figurinhas - umas mais direitas que outras, algumas de pôr os olhos em bico mesmo a um rafeiro como eu -  circulando num edifício assaz estranho, assim a atirar para o modernaço, um misto de estabelecimento prisional e centro comercial de subúrbio, a que ouvi chamar Casa da Cultura. 

Well, não me pareceu lá muito alta, esta casa para a Cultura.

Mas aquilo estava medianamente animado - muitas pernas entre os discursos iniciais (fiquei a pensar se a brevidade de flash das intervenções inaugurais será qualidade nesta região onde o gerúndio estica o tempo como nunca tinha visto antes nas minhas deambulações geográficas) as tee-shirts, os postais chineses, os comics, as mangas, as tiras, os rascunhos, as mesas e cadeiras. Gente simpática, ao princípio ninguém me enxotou com bengala ou pontapé, e a provar a tolerância multicultural até estava lá um tipo com nome de catedral muçulmana a dar o seu sinal, a que chamam de «autógrafo».

Inspirado, resolvi também dar o meu sob a forma bem mais prosaica de mijadela, alcei a perna para outra perna - a da mesa que funciona como expositor, e cai-me violentamente, em cima das orelhas, um Splaft! voador, que se estatelou no chão fazendo exactamente Splaft! - e ficou a agonizar no chão, aberto numa página que dizia  É preciso seguir os sonhos..., assim, com reticências e tudo.

Olhei para quem me tinha feito aquilo e reconheci no olhar sorridente de uma criatura jovem, do sexo feminino, a perversidade que já há muito tempo aprendi a ler nas pupilas dos humanos.

Rosnei-lhe - que eu também sei ser, quando é necessário, flor que não se cheire - ela pôs-se a zurrar «xô! xô!», e ficámos nestes preparos, a medir forças, ela de voz estridente, eu de dentuça arreganhada - mas ainda tendo na mente as palavras É preciso seguir os sonhos agora sem reticências e, exactamente no momento em que ia dar o impulso para assentar os maxilares numa barriga da perna bem torneada de chicha - recordem-se que tinha fome, muita fome, e, embora haja quem defenda que as actividades culturais se devem realizar de barriga vazia, eu já tinha a minha cota-parte de cultura faminta - alguém me pôs a mão sobre a cabeça, numa festa sincera mas firme.

Parei, surpreso, e olhei para cima. Estava salvo: encontrara o meu pajem.

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God Save the Quen and keep us fed and clean!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

virtudes do ócio

E... cheguei! Cheguei ao centro nevrálgico de Beja ainda ontem, dia cinzento, pelas minhas quatro patas. Entrei na Praça da República como um conquistador. Mas o sítio estava vago, sem público ou trombetas para me receber (embora estivesse erguido um palco - que, de animações callejeras percebo eu). Encontrei a Fifi, uma distinta bastarda de pequeno porte, a desafiar-me aos pulos e com latidos estridentes, com quem simpatizei logo. 

O chão desta Praça é coberto por umas lajes brilhantes enormes - e percebi logo porquê.  A Fifi explicou-me que, por baixo, há uma civilização ancestral enterrada. Fiquei emocionado por este assinalar da memória , através da junção destas múltiplas lápides funerárias. E, depois, quando chove - como ontem - é possível aos nativos exercerem a patinagem sem patins, correndo de um lado para o outro e deixando-se escorregar. Com a Praça solenemente fúnebre e, ao mesmo tempo, puxando à diversão, eu e a Fifi aproveitámos logo a possibilidade da patinagem, até ficarmos com os bofes de fora. Só nos acompanhou nesta loucura, a determinado momento, um trípede velhote (dois pés e uma bengala), pouco dotado para a brincadeira, pois estatelou-se logo no chão e ali ficou, sem conseguir levantar-se, a estrebuchar.

Como há muito tempo que não me passa um pouco de carne pelas beiças, aproveitei para matar saudades - sim, nós, os londrinos, não somos pedras insensíveis, também temos disso - e saltei-lhe em cima para lhe lamber, bem lambuzada, a cara. O homem ficou, pareceu-me, à beira da apoplexia, grunhindo, ofegante, no chão brilhante, e tentando sacudir-me. Felizmente, aquele centro do poder local de Beja continuava esvaziado de gente, e pude continuar a passar-lhe a língua pelas carnes secas - sem grande sabor, convenhamos.

Ainda há pouco, depois de um sono reparador sob as arcadas de uma simpática casa de habitação, pude verificar esta certeza: às 7:30h da manhã, em Londres, faça chuva, granizo ou sol (raro), nós, os canídeos livres, temos de ter cuidado com as centenas - senão milhares - de pernas, botas, sapatos e sapatilhas que transitam, em passo firme, para qualquer lado - eles lá sabem para onde, eu isso nunca percebi.

Aqui, tudo é diferente: a essa hora, o único que se atrevia a cruzar a Praça foi um gato  magricelas riscado, a quem, em nome de instintos ancestrais que começam agora a vir-me ao de cima, dei uma corrida vigorosa (não corria atrás de um felino desde os meus tempos de adolescente, quando, ainda parvamente, procurava pertencer a essa legião que abanava o capacete à frente do Ministry of Sound). Ainda agora se encontra em cima da árvore para onde trepou, e claro, de onde não consegue descer. 

I miss Fifi - recolheu-se a casa ontem ao anoitecer - para partilhar em pleno esta dupla vitória: cheguei, vi - e venci!

Sinto que estou no sítio certo: uma espécie de campo com umas casitas aqui e ali, as gentes recolhidas nas suas casotas. Para uma cidade de campo faltam-lhe árvores - mas a Fifi segredou-me que, para muita gente de duas pernas, elas são um inimigo a abater: as raízes levantam passeios, as folhas caídas enervam os diligentes proprietários dos carros - e, pior que isso, as árvores fazem lembrar, à maioria dos habitantes, as freguesias rurais de onde fugiram como o diabo da cruz em busca de empedrado, comércio chinês, água canalizada e televisão por cabo. É natural. Ainda vai levar algum tempo até que os filhos destes novos citadinos lhes atirem com os vasos de flores das novas varandas à cabeça, enquanto reclamam o património rural que já não existe - e, acreditem, isso vai acontecer.

O ar do campo revigora-me. Tenho fome. Lá terei de arranjar um pajem - alguém que me vá buscar comida e me dê umas festas no pêlo, de vez em quando. Tem de ser bem escolhido. Não quero nem uma carraça que me siga para todo o lado, nem uma pulga tonta saltitante que se esqueça de mim.

Vejo a Fifi! Será isto amor de festival?

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quinta-feira, 26 de maio de 2011

o sentido das coisas parece ir ao contrário, por cá

Tenho um ouvido apurado - e é o que me tem safado, desde que me pus a patas em direcção a Beja, com os condutores em alucinações de um Schumacher, ainda por cima todos, todos em contra-mão.

Gostava de vos ver súbditos de SS. MM., a terem de se explicar aos Bifes. Qual eu não vi senhor polícia tenho a filha doente no hospital, a unha do dedo gordo do pé direito encravada no acelerador, qual atitude pedagógica (senhor condutor veja se para a próxima põe um pouco de vaselina na unha tome lá um cartão da pedicura da minha mulher e a sua filha se está no 2º andar está muito bem entregue, descanse, o meu sobrinho que ainda é enfermeiro por cá mas já meteu os papéis para Londres, diz que só tem pena de ficar sem as sobras que deixam os pacientes do 2º, é um jeito da Albertina, a cozinheira, tive um fraquinho por ela, mas o que lá vai lá vai); em Londres, com esta condução, já só paravam na choldra, com os papéis apreendidos e condenados à bicicleta (objecto que, estranhamente, ainda não vi por cá).

Assim, embora viesse a treinar pelo caminho o difícil, nasalado e um pouco tonto «ão-ão» dos quadrúpedes nativos - disseram-me, no aeroporto, onde vi algumas lágrimas de despedida, para não perder de vista a torre do castelo, que havia lá erva boa para rebolar - valeu-me a inata e precisa atenção canina para saltar bem para longe do asfalto de cada vez que um bólide assobiava com instintos mais assassinos que a orca assassina do filme onde a minha querida Rampling diz a frase que me  tem valido neste mundo cão entre os bichos de dois pés:  «If he [the orca] is like a human, what he wants isn't necessarily what he should get.»

E, depois choveu, o que contradiz de modo esclarecedor a publicidade enganosa da agência Sunvil, a tal que conseguiu vender os quatro bilhetes enquanto cantavam o  Show me the way to Alentejo - reparem bem onde é que andam as nuvens por aqui - vêem-nas em algum lado? Mas sou um cão optimista, enquanto rosno com o coro - sha-la-la la-la-a-a! - aguardo o sol prometido (e os dois nacos com que me acenaram aos 1´26´´).

Entretanto, confirmei que esta terra e esta gente anda em sentido contrário. Mais carros e carros com e sem bandeiras, a cruzarem-se por mim - contra mim -  numa frenética corrida ruidosa. Pareceram-me, talvez de um modo indeciso, alegres - que eu, para apanhar estas subtilezas tenho um faro bem treinado.

O Orelhas, um perdigueiro que andava perdido por umas estevas, enquanto insistia em andar às voltas como um carrocel - o que me ia pondo doido, se há coisa que tenho por desnecessária é esta procura do dono (ou vem ele ter connosco, ou mais vale não ter nenhum) - ainda me ganiu, doloroso, que a caravana ia para uma Cuba que não era a do Castro das balsas, nem dos naufrágios, nem dos charutos, nem da salsa latina, nem da abertura ao agora saudável e incentivado espírito empreendedor para o mundo dos  pequenitos negócios - ver o «Nosso Primeiro» - que é como quem diz, percebi, depois de muito ofegar -  o equivalente ao nosso Number 10, o David -  se bem que me pareça que o vosso tem a testa um pouco mais curta.

Fiquei comovido; mesmo que não quisesse, a minha cauda sacudiu-se, vigorosa, em reflexos inatos: ainda agora chegado no meu way to Alentejo e já me cruzo, no paraíso que me venderam, com as maiores sumidades políticas da Nação cúmplice, que connosco celebrou a mais antiga Aliança Diplomática do Mundo-cão civilizado! 

Para selar esta reflexão dei uma mijadela salerosa numa oliveira raquítica, implantada em terreno agrícola de 1ª classe. Isto sim, é vida!

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quarta-feira, 25 de maio de 2011

hello!

It´s an injustice, it is, que não me tenham destacado dos quatro turistas que compraram voos Heathrow/Beja - pois todos sabem que sou o único que decidi não voltar. Era o que faltava: chega de nevoeiro (péssimo para o pêlo) de smog (horrível para o olfacto), de rações secas (uma seca!), de café Stardust (bughh!...) e, sorry, My Lovely Queen, mas quem não chega aos luxos reais tem de fazer pela vida.

Fiquei logo rendido assim que saltei do porão: ar seco e quente, nada de fumos - não falo dos cubanos tão apreciados aqui pelo pessoal de terra -  cheiro a terra argilosa - uma delícia para um nariz delicado.

Ignoraram-me quando seguiram em correria para Évora - e eu, que até tinha interesse em ver uma casota que eles lá têm com ossos (a única nota digna de interesse que uma rafeira alentejana um dia me confiara sobre essa cidade, durante uma soberba mijadela nas belíssimas pedras da Abadia de Westminster) enrosquei-me com o pessoal de terra, e, como em Roma sê romano, tomei a pose de todos os que têm mesmo de ficar no aeroporto: ou seja, com o nariz no ar a ver passar, de dia e de noite, os mais variados objectos voadores - abetardas (muitas), cegonhas (quantas bastem), gaviões (dois), corujas (três), mosquitos (vários enxames, o que me faz pensar na urgência de arranjar uma coleira repelente).

Depois de três dias enfiado no aeroporto -  à espera de nem eu nem ninguém sabia o quê - e com os sonos difíceis por causa da quantidade de luzes brancas, vermelhas e azuis que não param de tremelicar, de dia ou de noite, dei por findo o meu período de adaptação e de quarentena junto dos nativos, e meti-me à vadiagem - coisa que já reparei ser muito prezada por estas terras - não sem antes ter marcado, em sinal óbvio do meu agrado, com uma pujante mijadela, o solo aeronáutico que nestas terras lusas me acolheu.

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