domingo, 5 de junho de 2011

some very typical things

Uauf! Não sabia que aqui também chove cats and dogs! Que sorte termos acabado de chegar ao conforto do lar quando rebentou a tempestade! Fui acompanhar o meu pajem a uma obrigação qualquer que tinha, hoje - aquilo foi rápido, entrou nos Paços do Concelho com um cartão na mão e muitas dúvidas no espírito - nós, os cães, conseguimos ler estas coisas - e saiu de lá ainda mais angustiado. Ainda bem que aquilo durou pouco tempo - seja o que for a que o sujeitaram, não quero que ele sofra, coitado - como aconteceu naquele dia em que andou à minha procura, desesperado.

Chegados a casa, a preocupação não se lhe apagou do espírito, pois quando caiu a borrasca, era vê-lo a levar baldes e alguidares escadas acima, a resmungar sobre telhas e sobre a falta de dinheiro para mandar arranjar o telhado.

Fiquei no sofá a pensar que ele precisava de companhia; feminina, claro - para, por exemplo, o ajudar a carregar baldes - mas é preciso ter muito cuidado com quem se mete em casa: é só um narizinho mais avesso ao cheiro de cão, uma glândula mais sensível ao pêlo, uma sensibilidade mais afinada para os restos de comida que saltam da tigela para o chão - e olá alergias, olá pensamentos como «tenho de me livrar do cão», olá convencimentos de que «o cão ficava melhor era lá fora», e... adeus sofá.

Também é certo que sou muito cioso da companhia solitária com o meu pajem: escolhi um bom exemplar, não é nada parvo, aprende depressa as lições que lhe dou. A última foi convencê-lo a desistir de me levar à rua de trela - God!, depois daquele arrastamento no Parque da Cidade, jurei que teria de aprender. Assim que, depois de vários puxões, de me recusar a andar e de me emaranhar nas suas pernas, logo à  saída de casa, que é quando a vizinhança pode dar conta do acontecimento (e ele, de se sentir envergonhado), desistiu.

E foi lado a lado que o passeei ontem por uma coisa que aqui chamam de Festival do Amor - e que nada tem a ver com as nossas Love Parade, onde abundam os rapazes de bigode, de tronco nu - rapado e oleado - e musculados como divas. Esta é uma really different party. Afastei-me da música nocturna, pois sempre defendi a saúde dos meus ultra-sensíveis  tímpanos - e porque, depois de  evolutivos cruzamentos de gerações, nós, os canídeos, já nos libertámos dessa necessidade do sentir em matilha, que parece estar subjacente à concentração das movidas.

Passeámos pois por entre umas curiosas edificações que me disseram ser  a very typical portuguese thing, chamadas de  barraquinhas - e que parece que, em tempos, foi também um produto  bastante exportável, sobretudo para os arredores de Paris. 

De barraquinha em barraquinha - marquei-as a todas, com mais ou menos jactante mijadela - passámos pela da Ginja de Óbidos - o meu pajem provou e ainda pediu outra - às de aconselhamento sexual a jovens estouvados. Para meu deleite, encontrei a Fifi -  baixei as orelhas, pois senti aquele pesadelo com o qual os humanos convivem tão bem - a culpa - ao lembrar-me do que sentira, há apenas uns dias, pela Greta Garbo.  

And well, life goes on - não pudemos patinar nas lajes como da outra vez, pois estavam  muito  sujas e peganhentas - e nesta distracção, perdi o meu pajem, que, claro, tinha ido fazer asneira à barraquinha dos beijos: aquilo é para comprar? E ele nunca ouviu falar em herpes labial?  Não, nunca nos podemos descuidar quando passeamos o nosso pajem. Nesta altura pareceu-me que já estava estranhamente alegre, insistia em comprar-me uma coisa chamada pulseira do amor e chamava-me insistentemente; lá me apresentei  para o óbvio: quando o sorridente vendedor me ia colocar a fita ao pescoço  dei-lhe uma rosnadela tão ameaçadora que o meu pajem se desfez em desculpas e afastou-se rapidamente. O que eu queria, isso sim, era que ele me pagasse uma massagem ao pêlo na barraquinha onde se encontrava um lindo exemplar feminino de pessoa - mas entretanto já ele andava a pagar por uns papelitos que davam imenso trabalho a desenrolar - e que só serviam para, depois de se lerem uns gatafunhos que pretendiam ser conselhos de vida, deitar fora - como, no fundo se faz a todos os conselhos vindos de desconhecidos.

A Fifi aconselhou-me a levá-lo para casa - assim que desatei a correr até que ele viesse atrás de mim, esbaforido. Foi uma corrida louca, por entre ruelas e pessoas idosas, até chegarmos a casa.

À parte o clima - que  tem revelado a publicidade enganosa dos folhetos de vários operadores turísticos britânicos - Beja me mata!

I like it!

God Save the Queen and keep us fed and clean!

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