Esgueirei-me de novo pelo portão e fui ter com a Fifi à Praça da República. Estava sentida comigo, por não dar um cheiro de mim há dois dias, e levei com um ralhete de latidos que me fez amochar as orelhas (também é para isso que elas servem). Aquilo passou-lhe depressa - oxalá os bípedes humanos pudessem aprender connosco - e, como hoje não chove (enfim!) e o sol lá se dignou aparecer, ela quis mostrar-me this little town - e, sobretudo, um novo sítio onde podíamos ir apreciar a fauna nativa numa das suas actividades favoritas: comprar, comprar, comprar.
Fomos a trote, de caudas bem levantadas e juntinhos, sempre descendo, em direcção ao sul, num festote de mijadelas em postes metálicos - vocês têm cá muito disso! - em pneus - uauf! fugi a tempo de uma bota de um taxista, grrrr!... não sei porque é que não dão valor à honraria da escolha que faço - e em esquinas; eu, claro, que ela comportou-se como fêmea recatada, esperando por um bom nicho de relva para se agachar.
E lá chegámos ao sítio do Glamour Contagiante bejense, que, embora não tendo estrelas de cinema nem encantos de restritas wine nights, não deixa de merecer uma visita. Ficámos cá fora - sabemos bem que cão não entra (e muito menos em loja de chinês! Da China chegam-nos péssimos hábitos alimentares!) . E assim ficámos, sentados a mirar para os abat-jours coloridos da montra e toda a parafernália de objectos a perder de vista, aos quais os nativos bejenses se esforçavam, em rodopio de constantes entradas, em encontrar alguma utilidade.
O ritual consiste, basicamente, em passear por entre corredores cheios de prateleiras, tentar perceber para que serve este ou aquele objecto, puxar do telemóvel e gritar à prima ou à vizinha - com aquele tom cujo treino ancestral de chamada dos borregos na planície inculcou um vozear geracional de garganta aberta, em que a todo o momento se espera que as tripas saltem cá para fora - onde se está e se ela não precisará disto ou daquilo, experimentar levar dois ou três ou trinta objectos, esperar numa fila o tempo que for necessário, suspirando pacientemente, até chegar a sua vez, pagar e sair de saco de plástico na mão.
E assim, eu e a Fifi vimos uma amostra variada de humanos, que de outra maneira, não teríamos oportunidade de ver tão concentrada: exemplares seniores (muitos) adultos e juvenis, gordos e magros, enérgicos e passivos, de forte e de fraca compleição - uma oportunidade única, garanto-vos, se bem que muito longe do glamour e da diversidade étnica que observava na nossa Harrod´s.*
As pessoas, de um modo geral - e os nativos de Beja não fogem à regra - não sabem o que hão-de fazer ao tempo que têm, e insistem sempre em comprar ou vender qualquer coisa. Parece ser um desregulamento genético da raça humana.
Ainda não perceberam que as melhores coisas desta vida não se trocam por dinheiro: uma boa sesta ao sol, o cheiro húmido da erva do campo, umas coçadelas nos costados - e, claro, respirar o mesmo ar na companhia de quem se gosta. Olhei para a Fifi. Estava na hora de a levar a casa. E de verificar se o meu inconstante pajem me cozinhara os fígados de galinha.
A passeata por Beja aguçou-me o apetite. Não descortinei qualquer glamour, mas contagiei-me na mesma.
I like it!
God Save the Queen and keep us fed and clean!
*Aliás, uauf!, aconselho-vos a darem lá um salto, num destes voos domingueiros Beja/ Heathrow, partindo, por exemplo, no dia 18 de Setembro e regressando a 25 - uma semana não é nada para se fazer compras em Londres! O custo da viagem Beja/Londres/Beja é de 230,00€, mas, se quiserem ter a maçada de passarem pela vossa capital, podem seguir e voltar por 86,42€.
Eu sei que a opção é difícil - entre o vão orgulho de levantar voo em terras alentejanas, e a perspectiva de poder gastar a diferença em mais alguns objectos que hão-de atafulhar a vossa casa... mas... vivemos num pais livre, uauf!
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